CONVOCATORIA RChD | VOLUMEN 10 - NÚMERO 18 | junho 2025
Dossier: O multiescalar
No número 18 da RChD, perguntamos-nós como o design, uma prática outrora enraizada na cultura material e nos circuitos locais, nacionais ou internacionais de produção, distribuição e consumo de bens manufaturados (Sassen, 2004), se tornou uma atividade que não afeta apenas o ambiente construído, mas também ao imaterial ou intangível, através dos bens simbólicos, das experiências, dos serviços e das novas tecnologias de informação e comunicação (Frascara, 2001).
Desta forma, as escalas locais, nacionais, regionais e internacionais são dissipadas através de redes ou imbricações de alcance global (Sassen, 2007), enquanto as comunidades humanas se concentram em as práticas criativas e os ofícios nos seus próprios territórios físicos (García Canclini, 1997), combinando formas ou modos tradicionais de fazer a partir dum conhecimento culturalmente situado (Haraway, 1995), com técnicas revogadas pela eficiência produtiva e recursos tecnológicos mais contemporâneos. Neste contexto, o design surge como uma prática local ou comunitária que responde aos efeitos da globalização nos territórios (Escobar, 2017).
Esta nova edição da revista convida a pensar num campo mutável de redefinições, no qual as categorias de design institucionalizadas tanto a nível académico como profissional no século XX, são colocadas em crise por novos atores humanos e não humanos (Latour, 2008), levando-nos a uma questão fundamental sobre o sentido desta prática, em tempos em que a produção industrial descentralizada coexiste com o design centrado no usuário, enquanto as necessidades simbólicas como reconhecimento, pertencimento, visibilidade, identificação e raízes, se opõem à migração forçada ou procurada através de mundos familiares ou estranhos (Steinbock, 2022), tal como abundam as necessidades materiais mais básicas e às desigualdades abundam ali onde se pensava que o desenvolvimento –ou os seus caminhos– tinham completado a sua tarefa.
Por tudo o que foi exposto, pensar o multiescalar a partir do campo do design, exige abordar o impacto desta atividade tanto a nível físico ou presencial, como a nível imaterial ou simbólico, por meio de redes digitais nas quais a informação e a comunicação nos confrontam com vários desafios da realidade (Foster, 2004). De que maneira o design abordará esta onda de (não) designers através de ferramentas que simplifiquem ou tornem a tomada de decisões extremamente complexa em termos visuais?; a dispensação do humano por meio do uso da inteligência artificial?; a elaboração de bens materiais baseada na existência de zonas de sacrifício? (Bravo et al., 2021). Convidamos, portanto, investigadores/as, acadêmicos/as e autores/as dedicados/as ao design, a contribuir para a discussão que nos anima no número 18 da nossa revista.
Referências
Bravo, E. (ed.). (2021). Zonas de sacrificio en América Latina. Vulneración de derechos humanos y de la naturaleza. ASTM.
Escobar, A. (2017). Autonomía y Diseño. La realización de lo comunal. Tinta Limón.
Foster, H. (2004). Diseño y Delito. Akal.
Frascara, J. (2001). La desmaterialización del diseño. Tipográfica, 50, 18-25.
García-Canclini, N. (1997). Imaginarios urbanos. Eudeba.
Haraway, D. (1995). Ciencia, cyborgs y mujeres. La reinvención de la naturaleza. Cátedra.
Latour, B. (2008). Reensamblar lo social. Una introducción a la teoría del actor-red. Manantial.
Sassen, S. (2004). Los espectros de la globalización. Fondo de Cultura Económica.
Sassen, S. (2007). Una sociología de la globalización. Katz.
Steinbock, A. (2022). Mundo familiar y mundo ajeno. Fenomenología generativa. Sígueme.